domingo, 16 de outubro de 2011
sábado, 15 de outubro de 2011
Espaços de Memórias
CASAS
ESPAÇOS DE MEMÓRIA
de Belo Campo
Onde o homem passou e deixou marca de sua vida e inteligência, aí está a História.” (Fustel de Coulanges)
Nessa perspectiva, reconstituir os feitos materiais e imateriais dos nossos antepassados, não significa em absoluto, exercício de saudosismo, elogios infundados e improcedentes, ao contrário, trata-se de resgatar de modo real e veraz um tempo de bravura imposto pelas circunstâncias da época e pelas necessidades que os nossos ancestrais tinham de superá-las.
Via de regra, o propósito maior nesse sentido é pedagógico e, como tal, tornar as atuais e futuras gerações cientes que a feição do nosso lugar e de outros, é o resultado ininterrupto e histórico da colaboração de todos, sobretudo dos obstinados que a fim de responder suas necessidades imediatas de abrigo e alimentação, em momento algum hesitaram de trabalhar com fervor e bravura. Daí a nossa fidelidade e gratidão aos imortais desbravadores que muito nos legaram e nos fortaleceram enquanto homens através de seus exemplos de trabalho e luta.
cASA DE manoel augusto (Manoel Augusto de Castro Dourado)
O atual casarão que preserva até hoje suas características originais, foi o domicílio de Manoel Augusto de Castro Dourado, residência essa construída em 1951 pelo velho Seu Manoel, desbravador e descobridor do arraial de Belo Campo.
Pela notabilidade moral, social e política de Manoel Augusto, esta casa tem um valor simbólico muito grande visto que, a forma diplomática e respeitosa, o bom trato dispensado a todos indistintamente, a fartura gastronômica, o conselho, a orientação, o bom senso, entre outros atributos, certamente figuram como uma extensão desta residência.
Na condição de grande proprietário de terra, agricultor, pecuarista e comerciante que nos idos dos anos 50 já exportava banha de porco para Minas Gerais, o imortal Manoel Augusto tornou-se o primeiro conselheiro político de Irecê, cujo nome consta nos autos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Por todos esses motivos, o mencionado protagonista granjeou historicamente respeito de figuras notáveis como Edvaldo Lopes, Dermeval Santos Lopes, Ineni Dourado, Nobelino Dourado, entre outras inumeráveis personalidades regionais e de Belo Campo.
cASA DE pandolfo (Adolfo de Castro Dourado)
Construída em 1945, a deteriorada residência como revela a fotografia, foi a segunda construção de adobe, cujo aspecto avantajado traduziu historicamente a abundância de leite e derivados, casa de farinha, produção de cana-de-açúcar e atividades de sequeiro que demandaram por muito tempo muita mão-de-obra, tornando o velho abrigo espaço de uma imensa presença de trabalhadores, pessoas carentes da comunidade, padres, educadores a exemplo de Nestor Borges que foi o mestre de ensinamento das letras e do abecedário dos primeiros habitantes de Belo Campo, que até o presente, os remanescentes cultivam com ênfase a sua saudosa e notável memória.
Bem aventurados feitos que só podem ser efetivamente compreendidos através da participação efetiva de D. Aurelina, sua esposa, que esteve presente em todas as empreitadas, desde os afazeres domésticos até as pelejas agrícolas. Daí, o fato imponente do velho Adolfo ser chamado de Pandolfo que em Maquiavel (O Príncipe) designa pujança, notabilidade, prestígio, etc.
cASA DE dadazão (Valdemar de Castro Dourado)
Construída em 1953, o domicílio de Valdemar de Castro Dourado (o popular Dadazão), figurou ao longo dos tempos como um espaço de acolhimento de parentes, políticos e pessoas da comunidade de Belo Campo como um todo.
O velho Dadazão tem como traço peculiar o estímulo às boas práticas, ao respeito, à camaradagem, à parceria, em resumo, aos valores que fortalecem a pessoa humana e ao princípio de comunidade.
Valdemar de Castro Dourado é o primeiro filho de Belo Campo, nos autos dos seus 82 anos, ainda continua muito lúcido e animado, de sorte que está sempre aberto aos bons causos, às conversas esportivas, casos de colheitas, pescarias, entre outros.
No velho abrigo, nos dias correntes, verifica-se cotidianamente o jogo de dominó que congrega pessoas de diferentes idades e posições sociais. Isso revela sem contraprova a alma camaradeira, integradora e esportiva do amigo Dadazão.
cASA DE LIli (Darli de Castro Dourado)
Primeira construção de adobe com cobertura de telha, datada do ano de 1942.
A construção original era um déposito, de propriedade de Manoel Augusto Dourado, que era usado para armazenar um grande caixão de farinha. Posteriormente este local foi transformado no primeiro açougue local.
Na década de 1950 sofreu uma reforma e passou a ser a residência de Darli e Antônia.
Dando continuidade a linha de acolhimento e hospitalidade, nos anos 80 e, mais precisamente, em 86 com advento da emenda Dante de Oliveira, a referida casa tornou-se espaço de frequente presença de políticos renomados a exemplo de Aroldo Lima, Valdir Pires, Fernando Santana, Lídice da Mata, Jane Vasconcelos, Maria Del Carmo, autoridades regionais, entre outros, povoaram o mencionado domocílio, testemunhando assim a efervecência política da comunidade de Belo Campo.
cASA DE zezinho (José Ferreira do Nascimento)
Erguida em 1957, o abrigo de Zezinho (José Ferreira do Nascimento) ainda preserva sua estrutura original. O popular Zezinho, como era conhecido por todos, além de agricultor, marceneiro, pecuarista, foi um homem muito engenhoso criando peças de madeira em forma de rosca, prensas utilizadas nas oficinas de casas de farinha, bem como rodões que também eram frequentemente utilizados nessas oficinas.
Na construção originária, isto é, na anterior a atual foi celebrada a primeira missa de Belo Campo, assim como também foi sede de um espaço escolar no ano de 1945, tendo como professora Antonieta Dourado Vasconcelos do distrito de Gameleira dos Crentes.
Ao lado da casa ficava a casa de farinha, reduto esse que congregava pessoas de diferentes idades no ofício verdadeiramente afetivo e pedagógico, via contato interpessoal e transmissão permanente de valores e saberes. Como pode notar, trata-se de um abrigo que é uma extensão de um homem que a história o absorveu.
cASA DE pedro cardoso (Pedro Cardoso Pereira)
Erguida em 1957, é seguramente um templo que nos faz reportar em detalhes à história local. Pedro Cardoso Pereira é o mais velho e único remanescente dos patriarcas do desbravamento de Belo Campo, daí a relevância de seu aposento enquanto extensão e testemunho parcial de sua história e de nossa comunidade.
No auto dos seus 98 anos, o velho Pedro continua lúcido, de sorte que ainda é capaz de rememorar em minúcias os fatos do passado ligados à política, à economia, às primeiras construções, enfim, aos inúmeros acontecimentos que permearam a nossa história. Nessa perspectiva, observa-se que Pedro, por ter sido ligado ao comércio e participado intensamente da vida cultural e social de Belo Campo, é muito querido e venerado por pessoas de todas as idades e diferentes níveis sociais, emergindo conjuntamente com D. Amália (Sindona), sua esposa, como verdadeiros patrimônios culturais.
cASA DE Jove (Joviniano de Castro Dourado)
Edificado em 1963, o abrigo de Joviniano e D. Luiza, é sem exagero o império da resistência, desde sua estrutura de adobão que traduz um tempo de luta e trabalho descomunais até o desejo precoce de crescimento educacional de seus descendentes, expresso, por exemplo, no primeiro universitário da comunidade de Belo Campo no final da década de 1970, pelas enciclopédias Fortaleza e Barsa, bem como através das inumeráveis coleções de Machado de Assis, José de Alencar, Graciliano Ramos, Raquel de Queiroz, entre outros clássicos da literatura brasileira e portuguesa.
O velho abrigo, não obstante, foi reduto dos doces e dos sequilhos que sempre alegraram a netaiada e os hóspedes estudantes e amigos dos filhos, cuja abundância refletiu a capacidade de trabalho do casal, da exímia dona de casa, D. Luiza e do agricultor e pecuarista Joviniano.
Como extensão dessa história gloriosa, nos dias correntes a casa de Jove ainda é a maior referência da comunidade no tocante ao conhecimento e possibilidade de pesquisa e estudo dado seu significativo acervo bibliográfico e o considerável número de universitários.
cASA DE du (Jesuíno de Castro Dourado Filho)Edificada no meado de 1950, a casa do velho Du (Jesuíno de Castro Dourado Filho), conserva suas características originais até hoje. Assim como a residência de Babá, nos anos 70, em caráter provisório, sediou o ensino primário.
O velho Du, príncipe dos causos cômicos a exemplo de O jumento comandante, o cão plutão e de tantas outras inumeráveis anedotas, trata-se de um grande pai de família, homem exemplar, trabalhador e cumpridor dos seus deveres, no auto dos seus 80 anos, ainda continua muito lúcido e engraçado de modo que é muito solicitado para contar suas hilariantes estórias. De resto, o mencionado personagem sempre exerceu as atividades ligadas à agricultura e à pecuária.
cASA DE babá (Aderbal de Castro Dourado)
Construída em 1955, a residência do popular Babá (Aderbal de Castro Dourado) tinha como traço peculiar na sua estrutura 11 janelas que se estendiam lateralmente no sentido leste.
O referido proprietário é o primogênito de Adolfo de Castro Dourado. Assim como o velho Pandolfo, Aderbal foi pecuarista e agricultor do mais alto relevo no distrito de Belo Campo e arredores durante várias décadas, onde nos anos 60, já possuía máquinas pesadas como tratores e transportes de mercadorias e cereais em geral, a exemplo de Jeep e picape.
Partidário das grandes causas e ensejador do progresso de Belo Campo, nos idos de 1986/87, Babá doou a sua residência para funcionamento do colégio de 1º grau (antiga CNEC).
O saudoso Babá foi um homem daqueles cujo caráter dispensa comentário e, que por isso mesmo, é importante reforçar seus atos como exemplo em um mundo tão carente de lisura comportamental e pudor.
cASA DE Seu antônio (Antônio Avelino de Souza)
Construída no ano 1964, trata-se de um domicílio que substituiu a sua primeira morada que, durante os anos 40 e décadas posteriores, foi o local onde se celebravam festas natalinas, juninas, casamentos e outros. Tal realidade estava associada ao grande espaço da casa, somado à boa vontade de Seu Antônio e de Sinhá (Maria Amélia), sua esposa.
O velho Antônio é de saudosa memória, não só pelos atributos morais selados pelo trabalho, respeito, amizade, cooperação, entre outros, mas também pelo jeito brincalhão que foi durante sua vida uma marca registrada do seu perfil. No velho tanque do gado, os cinquentões atuais, os moleques dos anos 60, muitas vezes quando iam tomar banho naquele bebedouro, ficavam sem suas vestes, pois em nome humor, o velho Antônio pegava uma a uma para inquietação e choro da meninada. Só vendo como era engraçado. Por todas essas razões, Antônio e Sinhá são personagens célebres da nossa história.
85 anos de História
Partindo da idéia que a memória é o instrumento fundamental do laço social, precisamos fortalecer a memória coletiva do nosso lugar. Isso significa rememorar fatos e acontecimentos que marcaram, de algum modo, nossa comunidade belocampense. Nessa perspectiva, as narrativas coletivas fortificam nossas lembranças que, por sua vez, se reforçam por meio das comemorações públicas a exemplo das que foram realizadas em abril de 2011, 85 anos após a chegada do velho Manoel Augusto no saudoso lajedo.
Comemorar faz parte do trabalho de construção de uma memória coletiva. Por isso, relembrar nossos 85 anos de história vai muito além de um simples apagar de velas, é uma prática social que busca reacender nas memórias individuais o sentimento de pertencimento.
Entretanto, o ato de recordar deve atender às questões e aos desafios do presente. Por isso, é preciso que tenhamos consciência que os nossos patrimônios histórico-culturais estão sendo, a cada dia, destruídos, aterrados, demolidos.
Patrimônio, no seu sentido, significa a expressão mais profunda da alma de um povo, é o legado que recebemos do passado, que vivemos no presente e que transmitimos às gerações futuras. São os patrimônios, materiais e imateriais, que fortalecendo o sentimento de pertencimento, asseguram a construção da identidade cultural de um povo, sendo suporte precioso para formação do cidadão.
Manifestações Culturais de Belo Campo
Compreendendo o conceito de cultura como sendo o conjunto das manifestações humanas, materiais ou simbólicas, representativas do que é apreendido e partilhado pelos indivíduos dentro de uma coletividade, a cultura torna-se fator essencial para a construção da identidade. Assim, corresponde a todas as formas de organização, costumes e tradições transmitidos de uma geração para outra a partir das vivências. Desse modo, analisar determinada coletividade significa perceber as características que conferem aos membros do grupo o sentimento de pertencimento.
Analisando a comunidade de Belo Campo, Lapão/América Dourada – Bahia, observa-se forte tradição religiosa representada pelos festejos em homenagem à padroeira nossa senhora de Fátima, comemorados no dia 13 de maio há 42 anos. Isso vale dizer que até 1968, a padroeira de nossa comunidade era Nossa Senhora das Candeias, cuja festa era celebrada no dia 2 de fevereiro. Entretanto, a Igreja juntamente com a comunidade, decidiu mudar para Nossa Senhora de Fátima, em virtude das chuvas que eram mais intensas naquela época e dificultavam o acesso de Padres até a essa localidade, para realizar as celebrações.
Nesse sentido, essas informações são úteis para conhecer parte da história dessa comunidade e entender as origens do culto a essa padroeira. Contudo, é importante perceber o significado e a relevância histórica do culto a Nossa Senhora de Fátima, enquanto símbolo soberano de fortalecimento psicológico, emocional, cultural e de integração social.
Outra manifestação religiosa muito importante para esta comunidade acontece nos últimos dias da quaresma que antecedem a Semana Santa. Sem estudos específicos sobre o tema, as origens não são muito claras. A partir de relatos dos mais velhos, estima-se que surgiu por volta dos anos de 1950, trazido por uma antiga moradora. A Alimentação das Almas não é registrada atualmente em nenhum lugar da região, tornando-a ainda mais cheia de incertezas.
No campo das festividades populares, a comunidade conta com a tradicional festa de São João comemorada com muito entusiasmo por seus moradores desde as origens deste agrupamento social. De grande relevância, a festa configura-se como elemento unificador nesta comunidade dividida politicamente.
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